O tema desse blog é
"a ética do cuidado de si”.Onde se analisa a proximidade da filosofia
tardia de Kant com a ética do cuidado de si de Foucault, para tanto, o filósofo faz uma análise histórica do conceito de cuidado de si, iniciando pela Antiguidade
que entendia o cuidar de si como uma prática fundamental para o domínio de si
mesmo e como condição transformadora para ascender à verdade. O imperativo
socrático "conhece-te a ti mesmo” era um exercício ético ordenado ao ideal
de criar uma relação de correção entre ações e pensamentos e atuar
politicamente para o bem da cidade, tornar-se virtuoso, viver bem para si e com
o outro e, consequentemente, viver bem em comunidade.
Tanto na Antiguidade,
quanto na Roma do Império, com os estoicos Epiteto, Sêneca e Marco Aurélio, a
ética do cuidar de si contemplava as várias dimensões da vida tais como: o
amor, o sexo, o corpo, comportando um conjunto de atitudes observáveis em si e
nas relações com a família, os amigos. O cuidado com o corpo estava incluído
como parte importante do modo de vida.
Dietas e exercícios físicos eram recomendados e deviam ser adequados à
idade e realizados em horários e lugares de acordo com a época do ano, bem como
a atividade sexual que era orientada de acordo com a observância do estado do
corpo e do ambiente externo
De que vale preparar teu corpo se não conheces a te mesmo!
Assim, o cuidado de si dava destaque para a relação consigo mesmo, ao autoconhecimento e as ações que possibilitavam a transformação do seu próprio modo de ser, não havia uma preocupação com as deficiências do outro, mas antes, conhecer as próprias fraquezas, virtudes e vícios. Essas reflexões visavam a uma conduta moral e não a códigos morais.
De que vale preparar teu corpo se não conheces a te mesmo!
Assim, o cuidado de si dava destaque para a relação consigo mesmo, ao autoconhecimento e as ações que possibilitavam a transformação do seu próprio modo de ser, não havia uma preocupação com as deficiências do outro, mas antes, conhecer as próprias fraquezas, virtudes e vícios. Essas reflexões visavam a uma conduta moral e não a códigos morais.
Preocupa-se com você mesmo, não te preocupes com a deficiência dos outros, você com certeza tem mais a perder!
Segundo Foucault, na modernidade houve uma descontinuidade desse pensamento
sobre o sujeito, que em Descartes passa a ser um dado puro e simples, uma
substancia, um sujeito pronto e por isso não precisa ser constituído.
No pensamento de Kant o que o homem pode e deve fazer de si mesmo: esse
esclarece a necessidade de exercícios que serviriam para tornar “subjetivamente
práticos os conceitos morais”. O primeiro reporta-se ao “hábito” de julgar
segundo a moralidade, uma tentativa de tornar a lei moral uma constante em
nossas ações e julgamentos, o que como aponta Kant, passa primeiro por
questionar a si mesmo se as ações praticadas são “conformes à lei” para num
segundo estágio questionar se tais ações são praticadas também “em virtude da
lei”. O segundo exercício diz respeito à cultura da pureza moral que acarreta
numa maior receptividade à lei moral ou pelo menos ao sentimento moral (não se
assemelham ao que Foucault chama de práticas de si)
Na “Doutrina das virtudes”, Kant procura mostrar como a virtude pode ser
efetivada. Não pode se dar por meros conceitos, necessita de cultivo e
exercícios, ou seja, de uma ascese; ao mesmo tempo ela pode ser ensinada, e,
uma vez que não é inata, à doutrina do método da ética deve pertencer também
uma didática.
Como ser limitado e definido como quer Descartes, se a todo tempo cultivamos em nós a alegria, a redescoberta da vida!
Como ser limitado e definido como quer Descartes, se a todo tempo cultivamos em nós a alegria, a redescoberta da vida!
Kant especifica que o objetivo dos exercícios morais para a virtude é a
constituição de ânimo a um só tempo firme e alegre. Segundo ele, os sacrifícios e a sobriedade ao
princípio estoico “sustineet abstine”,
no homem virtuoso, devem estar vinculados não a um embotamento do ânimo, mas a
uma certa alegria , a uma certa satisfação com a própria condição moral. Ao permitir que o homem
suporte as privações e se acostume a viver sem os prazeres supérfluos ele se
submete a um tipo de “regime” para se manter moralmente sadio. Só que saúde é
um bem-estar que não pode ser sentido e deve-se acrescentar a ela, que propicia
um agradável fruir da vida, mesmo que seja somente moral, e isto é o coração
jubiloso (Epicuro). Na “Doutrina das Virtudes” Kant se refere a um cultivo
ético do homem em analogia com os cuidados com o corpo. Chega a falar de uma
“dietética moral”. A dietética é a arte de cuidar do corpo em seus vários
aspectos, tendo como um de seus fins a saúde.
Kant define a dietética em “O conflito das Faculdades” como uma arte preventiva,
ou mais precisamente como a “arte de impedir enfermidades”, tendo como
contraparte a terapêutica que seria a arte de curar enfermidades. A dietética
também pode ser pensada como medicina filosófica, consistindo numa série de
prescrições de prudência, que não se reportam diretamente á ética, isto é,
certos princípios acerca do uso do corpo, do melhor aproveitamento do sono, de
certos cuidados na velhice, de exercícios físicos, e até do aproveitamento da
filosofia ou de outras recreações como estímulo das forças vitais. Esta
medicina filosófica, que tem como princípio a divisa estoica já citada, é
definida por Kant como o poder da razão no homem, ao dominar as suas impressões
sensíveis por um princípio que ele a si próprio se faculta, de determinar o seu
modo de vida; opondo-se, deste modo, à medicina empírica e mecânica, que para
dominar as sensações busca ajuda fora de si, “em meios corporais (da farmácia
ou da cirurgia)”.
Para Foucault, a ética do cuidado de si é uma proposta que coloca o sujeito no centro das reflexões, porém, livre dos atributos apresentados pelo pensamento moderno que disciplina e determina uma forma de moral voltada para códigos morais. A ética do cuidado de si, proposta por Foucault, chama o indivíduo a se compor como sujeito moral, para a reflexão, o conhecimento e a transformação em si e para si. O objetivo é a liberdade, uma relação consigo mesmo que não permite que suas paixões dominem o seu ser.
Em Foucault, o cuidado de si busca a construção do sujeito e que o seu modo de ser seja definido com autonomia, é uma experiência do sujeito com a sua própria verdade, é constituir a si mesmo como sujeito de conhecimento, e principalmente como sujeito da ação ética.
Conclusão:
A partir do pensamento de Foucault podemos afirmar que o homem só vive quando encontra sua liberdade.
A partir do pensamento de Foucault podemos afirmar que o homem só vive quando encontra sua liberdade.
A
possibilidade de auto formação ou auto modificação do homem,
a partir de práticas de cultivo de si mesmo, que são o cerne da ética ou da
antropologia moral do pensamento tardio de Kant, são também o cerne da
concepção da ética do cuidado de si foucaultiana. A ética de Foucault procura
não ser apenas uma disciplina, uma proibição do desejo, mas também é o cuidado
de si.
A
ética do “cuidado de si”, que Foucault propõe, nada mais seria do que um conjunto de
valores, regras e preceitos, impulsionados por nossa vontade e desejo, que nos
leva a um padrão ético que nos remete a nós mesmo, sem necessariamente nos
isolarmos do mundo, conhecemos a nós mesmos para depois agirmos no mundo.
Esse valorar e cuidar de si mesmo, vale tanto para nosso corpo quanto pra nossa alma,
subjetividade, que nos leva a romper com a estatização das normas e nos voltarmos para satisfazer os
desejos de nossa vida. Modelamos a vida de acordo com a própria vontade,
escolhas, e isso nos liberta a nos refazermos a todo o momento, fugindo das
imposições sociais, que nos remetem ao vir a ser aquilo que a sociedade quer.